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28 de agosto de 2013

Eu tenho um sonho, cinquenta anos depois

Passam hoje 50 anos desde que Martin Luther King discursou em Washington, para uma multidão que se reuniu para se manifestar contra a segregação racial dos estados sulistas dos EUA.
Para muitos milhões de americanos reprimidos pela segregação que as leis raciais impunham, este discurso histórico foi um raio de esperança na sua luta pela liberdade e igualdade.

Graças a grandes homens e mulheres humanistas como Luther King, Ghandi, Nelson Mandela, Rosa Parks e Kate Sheppard, que lutaram contra leis que restringiam a sua liberdade e a dos seus, contra a intolerância de seres humanos por seres humanos e a injustiça, o nosso planeta tornou-se um lugar mais justo.

Cinquenta anos depois de Luther King ter proferido estas palavras, fica uma reflexão, o que mudou? O que falta mudar para tornar este planeta um sítio mais justo, fraterno, igualitário, humano? Devemos continuar a sonhar e a lutar por um mundo mais justo, fraterno e humano ?

Quando paro para olhar, apercebo-me de que falta muito, muito mesmo. Esta é uma tarefa que não tem fim, e provavelmente nunca terá. Mas hoje, quando cresce o sentimento de injustiça, a miséria, a intolerância, quando milhões de pessoas estão desempregadas e perdem a sua esperança, quando a corrupção e falência dos modelos de governação estão à vista e existe uma perda generalizada de valores morais e éticos, importa não esquecer as palavras deste mesmo discurso proferido à cinquenta anos:

"Não, nós não estamos satisfeitos, nem iremos estar satisfeitos até a justiça rolar como a água e a rectidão como uma corrente poderosa (...) Não nos deixemos cair no vale do desespero. Eu digo-vos, meus amigos, nós temos dificuldades de hoje e amanhã. Eu hoje tenho um sonho (...) Com esta fé vamos ser capazes de transformar as discórdias estridentes da nossa nação numa bela sinfonia de irmandade"

Nunca é tempo perdido, mesmo para os que pensam que os discursos são uma seca, deixar de ouvir este discurso poderoso e inspirador, sobretudo nos dias de hoje, por isso deixo-vos o vídeo do discurso que foi também o início do fim da segregação. Espero que sirva de inspiração a todos nós, para que nunca deixem de lutar pelos sonhos, e para que nunca abdiquemos de dia após dia, tornarmos o mundo em que vivemos num lugar mais justo e fraterno. Lembrem-se que por mais insignificantes que pareça, basta um pequeno gesto para fazer a diferença.







27 de agosto de 2013

O lugar encantado a que chamo de terra


Terra para alguns é um ponto de encontro familiar em Agosto, um porto seguro no qual nos refugiamos, ou apenas um sítio que nos permite escapar à nossa vida do dia-a-dia e entrar numa realidade que nos é estranha durante a maior parte do ano, como se entrássemos num cenário de fantasia.

Para outros, terra é uma pasmaceira onde nada se passa, no qual apenas os mais idosos se atrevem a viver, longe de uma vida urbana pontuada pela vertigem da corrida contra o tempo, da qual alguns abdicaram por os seus passos se terem tornado demasiado vagarosos para acompanharem o ritmo do dia a dia, sentindo-se mais seguros de si nessa terra que não exige passos rápidos nem corridas contra o relógio. Nesse lugar são eles os donos e senhores de um tempo que passa devagar, e no qual é possível parar e observar a natureza e tudo o que os rodeia. 

Terra para mim é tudo isto que descrevi, mas é também muito mais. Esta terra é uma aldeia abraçada e acarinhada por montes, vales e florestas onde o verde é a cor dominante e rios que correm em cascatas, lagos e praias fluviais até se cruzarem com o Rio Minho. 


É uma terra forte e segura de si como todas as terras altas, com casas, caminhos, moinhos de água e canastros de pedra cinzenta robusta, que apenas não resiste ao musgo que por vezes a cobre e à vegetação que cresce viçosa graças à chuva abundante dos meses de inverno, que nos seduz pela paisagem de uma beleza natural que esmaga os sentidos de quem não está habituado a parar e observar o que o rodeia. 

É uma terra envolta em mistério, que nos atrai com histórias fantásticas sobre bruxas, feiticeiros e fantasmas, contadas enquanto se faz um conxuro para espantar espíritos malignos e assombrações e bebe uma queimada ao som de gaitas de foles e muiñeiras.

Este é o local para o qual regresso todos os anos, após contar os dias que faltam com ansiedade. O local em que me sinto em paz comigo próprio e com o mundo, onde tudo é mais simples, em que a vida não se rege pelos ponteiros do relógio e a pressa é relativa.


Esta é a terra onde a vida se passa em passeios através de caminhos de pedra outrora percorridos por gente do campo, que por vezes levam a lugares de sonho que outrora foram campos de cultivo, pelos moinhos comunitários onde outrora os moradores moíam os cereais nas Mós movidas pela força dos rios, pelos montes apenas povoados por árvores, arbustos, cavalos selvagens e gado, pelas praias fluviais onde me banho quando tenho calor, em passeios de carro através das curvas serpenteantes da estrada que desafiam os sentidos e exigindo destreza e concentração máxima, em piqueniques com os vizinhos ou festas gastronómicas e bailaricos, onde a gula, alegria e descontracção são a nota dominante.



Esta é a minha terra, uma aldeia que é para mim uma mini-pátria à qual pertenço desde o primeiro dia que nela entrei, um lugar ao qual anseio regressar quando estou longe e do qual me lembro todos os dias, e no qual me deixo levar pelos sentidos e caminhos perdidos nos montes, vales e bosques, e que me recebe sempre com o seu encanto, beleza e mistério.