
Terra para mim é tudo isto que descrevi, mas é também muito mais. Esta terra é uma aldeia abraçada e acarinhada por montes, vales e florestas onde o verde é a cor dominante e rios que correm em cascatas, lagos e praias fluviais até se cruzarem com o Rio Minho.

É uma terra forte e segura de si como todas as terras altas, com casas, caminhos, moinhos de água e canastros de pedra cinzenta robusta, que apenas não resiste ao musgo que por vezes a cobre e à vegetação que cresce viçosa graças à chuva abundante dos meses de inverno, que nos seduz pela paisagem de uma beleza natural que esmaga os sentidos de quem não está habituado a parar e observar o que o rodeia.

É uma terra envolta em mistério, que nos atrai com histórias fantásticas sobre bruxas, feiticeiros e fantasmas, contadas enquanto se faz um conxuro para espantar espíritos malignos e assombrações e bebe uma queimada ao som de gaitas de foles e muiñeiras.

Este é o local para o qual regresso todos os anos, após contar os dias que faltam com ansiedade. O local em que me sinto em paz comigo próprio e com o mundo, onde tudo é mais simples, em que a vida não se rege pelos ponteiros do relógio e a pressa é relativa.

Esta é a terra onde a vida se passa em passeios através de caminhos de pedra outrora percorridos por gente do campo, que por vezes levam a lugares de sonho que outrora foram campos de cultivo, pelos moinhos comunitários onde outrora os moradores moíam os cereais nas Mós movidas pela força dos rios, pelos montes apenas povoados por árvores, arbustos, cavalos selvagens e gado, pelas praias fluviais onde me banho quando tenho calor, em passeios de carro através das curvas serpenteantes da estrada que desafiam os sentidos e exigindo destreza e concentração máxima, em piqueniques com os vizinhos ou festas gastronómicas e bailaricos, onde a gula, alegria e descontracção são a nota dominante.

Esta é a minha terra, uma aldeia que é para mim uma mini-pátria à qual pertenço desde o primeiro dia que nela entrei, um lugar ao qual anseio regressar quando estou longe e do qual me lembro todos os dias, e no qual me deixo levar pelos sentidos e caminhos perdidos nos montes, vales e bosques, e que me recebe sempre com o seu encanto, beleza e mistério.