A nossa vida, desde que nascemos até ao último suspiro é feita de uma série de acontecimentos que provocam reacções em cadeia.
A vida é feita de vivências, momentos inesquecíveis, pessoas insubstituíveis, amor, desafios, paixões, desejos, ambições, viagens, dor, sofrimento, luto, luta, desejo, memórias e sonhos.
Tudo isso faz parte do eu de todos nós e das vidas dos que nos rodeiam, criando uma odisseia sem fim. Este blog é o relato da minha odisseia.
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21 de dezembro de 2012
“Natal é tempo de paz, solidariedade, felicidade e união familiar.“
Em miúdo acreditava piamente nesta frase repetida até à
exaustão durante a época natalícia (e na existência do Pai Natal). Natal para
mim era uma palavra que me transportava para um local em que toda a família
convivia de forma salutar à mesa, numa grande sala iluminada em que uma lareira
acesa onde grossos toros de madeira crepitavam, com uma grande árvore de Natal
a um canto da sala, na qual se viam através das janelas flocos de neve a cair.
Penso que todas as crianças imaginam o Natal assim.
O meu Natal nunca foi o que imaginei. Uns anos faltou a
lareira, noutros faltou a família toda à mesa e
em todos os outros a neve a cair no exterior. Nunca faltaram as prendas, a mesa
farta e a árvore de Natal, mas apesar de gostar de receber prendas, a verdade é
que o que gostava mesmo era de brincar com os meus pais, ouvir as histórias do
meu avô que me faziam rir como um perdido e em que as filhozes da minha avó eram
presença constante no Natal.
Depois cresci e aprendi que o Pai Natal era uma invenção da
coca-cola, e que Natal para muitos se resume a comer desalmadamente, em clima
de paz podre, em que toleramos a presença de familiares de quem não gostamos ou
“desconhecidos” apenas por ser “Natal”, para logo a seguir pura e simplesmente
ignorarmos durante o resto do ano essas pessoas, e em que a maioria de nós anda
numa corrida desenfreada de loja em loja em busca de presentes para oferecer,
de uma árvore de Natal, de iluminações, de comida, de doces, ignorando a miséria
existente à nossa volta, e o facto de que na verdade até nem precisamos de
tantas prendas, tanta comida, tantos doces, tanto de tudo. Com tanta fartura a maioria
de nós acaba por não dar valor a nada do que é verdadeiramente importante no
Natal e em celebrar esta época. Eu fui um deles. Um Bom Natal passou a significar receber muitas prendas, os jantares de Natal deixaram de ter a magia de outros tempos e passaram a ser algo banal, e as filhozes passaram a ser apenas mais um item numa mesa farta de doces e comida, até chegar ao Natal passado e
tudo mudar ao receber a notícia de que seria o último Natal que uma das pessoas
mais próximas de mim iria provavelmente passar na sua vida…
Foi talvez o Natal mais triste de que tenho memória, mas
também aquele em que todo o clima de loucura consumista me passou completamente
ao lado, e voltou a ser o que era quando era pequeno, em que a alegria do
convívio à mesa se tornou o mais importante. Tudo o resto passou para um plano
secundário, com excepção das filhozes que a minha avó fez questão de fazer
apesar de já estar muito doente.
Um ano passou desde esse Natal triste mas verdadeiro. O meu
desejo é que este Natal que se aproxima seja também ele próximo do verdadeiro
espírito de Natal. Aparte disso queria também filhoses da minha avó, mas isso já
não vai ser possível.
Alguns dizem que dentro de horas o mundo acaba devido a ser o dia
final do calendário Maia. Outros defendem que este dia marca o fim de um ciclo
e o começo de outro, e outros dizem que vai ficar tudo na mesma.
Eu espero e desejo
que este seja mesmo o fim de um ciclo e o começo de outro, e que seja melhor
e sobretudo mais humano e mais verdadeiro, em que a palavra solidariedade não
seja apenas usada no Natal, e em que a verdadeira razão de ser do Natal
regresse, a alegria de juntar a família para confraternizar e conviver, sem
falsas hipocrisias nem materialismo desmesurado. É este o Natal que desejo para todos vós...
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