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16 de junho de 2012

Insónia

Hoje custa-me adormecer, tenho a cabeça a funcionar a mil à hora, como que alimentada por um dínamo imparável e inesgotável, apesar de me sentir fisicamente esgotado.

Viro-me para o outro lado, ajeito a almofada e fecho os olhos, esperançado que isso ajude a fazer com que o sono finalmente chegue. Passados cinco minutos, cumpro o mesmo ritual e viro-me no sentido contrário, mas nada disso adianta. A cabeça continua a mil e os sentidos mais despertos que nunca.
Resolvo levantar-me e encaminho-me para a varanda. Está uma noite calma, apenas se ouvem ao longe as corujas que piam em busca de alimento no que resta do que já foi um dia um extenso olival.
As luzes dos candeeiros iluminam as ruas desertas de pessoas, e a ponte Vasco da Gama ilumina o Tejo ao longe. São 3 da manhã, sinto-me esgotado fisicamente mas resolvo ficar mais um pouco, absorto nos meus pensamentos.

Sei o que ocupa o meu pensamento. São memórias de tempos que ficaram presentes apesar de pertencerem ao passado, memórias de pessoas que partiram mas ficaram e ficarão para sempre comigo.
Sinto que lá em cima olham por mim, e quero que se orgulhem de mim, mas sei que nem tudo são motivos de orgulho na minha vida. Cometi erros, e cometerei muitos mais porque o erro faz parte do ser humano, e eu nada mais sou que humano. Tento fazer o melhor que posso e sei, mas sei que nem sempre isso basta para não errar.

Travo um duro combate comigo próprio para que não me venham as lágrimas à medida que vou tendo flashbacks de memórias de momentos que ficaram.
- Sentir é fraqueza, penso para comigo, mas não acredito mais nessa frase que um dia fez parte da minha vida e da minha forma de pensar como uma verdade inabalável, que um dia ruiu como um baralho de cartas.

Após acalmar o coração, detenho-me mais um pouco. O vento frio da vai tornando a noite menos cálida. Sinto que é hora de regressar ao quarto, embora saiba que pouco irei dormir. Hoje vai ser um dia duro para os sentidos…Mas a vida é assim mesmo, e a vida continua para o melhor ou para o pior. Há que encará-la de caras e sem receios. Foi isso que aprendi com os que partiram.

Onde quer que estejas, feliz aniversário Avó.



12 de junho de 2012

Lá vai Lisboa, com o seu arquinho e balão...



Eis que finalmente chega a noite que mais gosto em Lisboa.
A véspera de Santo António é para mim a melhor noite no ano inteiro para sair em Lisboa.


Esta é a noite em que reinam nas ruas de Lisboa os bailaricos na rua e nos largos, a música pimba ecoa pela ruas em perfeita comunhão com as casas de fado que povoam os bairros tradicionais, o cheiro a sardinhas assadas invade o olfacto e o fumo das sardinhadas faz com que as ruas estejam envoltas numa atmosfera de fumo e que abre o apetite para comer mais uma sardinha no pão, os manjericos com as quadras populares são vendidos ao som dos pregões tradicionais pelas vendedoras, as marchas populares dos bairros com os arcos e balões desfilam ao som de cantigas populares a glorificar os bairros de onde são provenientes, os populares cartazes com os menus mal escritos com o já célebre há caracóis sem h e com o assento escrito da maneira errada fazem as maravilhas dos que passam e reparam, as ruas de Alfama, da Bica, da Mouraria e da Graça cobrem-se de flores, candeeiros de papel e luzes de 1001 cores, e as ruas, largos e becos ficam povoados de gente.

Tudo isso faz parte das festas populares e da identidade desta cidade linda e misteriosa que é Lisboa. Por tudo isto saímos à rua nesta noite para celebrar esta cidade e festejamos a vida, a amizade e o amor.







21 de março de 2012

Zivot je cudo (A vida é um milagre)

Depois de semanas seguidas de stress, deadlines para cumprir e intensa pressão, voltei, mais uma vez com a satisfação de mais uma missão cumprida!

E foi com bastante surpresa que me apercebi que este blog já tinha mais de 1000 visualizações...Nunca pensei chegar a esta marca tão rápido, mas é sinal de que gostam do que escrevo, e isso incentiva-me a escrever mais.

Por isso por este ser o último dia em que celebro os meus 33 anos, e porque a vida é um milagre que merece ser celebrado com alegria, venham de lá dois hip hip hurrahs bem altos, e siga a festa que os 34 são já amanhã!


24 de janeiro de 2012

E depois do adeus

Dizer adeus é algo que detesto, porque a palavra soa-me a algo definitivo e assumido.

Nunca gostei de usar esta palavra, e é muito raro usá-la para me despedir de alguém. Sempre preferi usar um até breve ou um xau para me despedir, porque dá a sensação (embora por vezes falsa) de que um dia, mais tarde ou mais cedo irei ver e voltar a conviver com essa pessoa.

No entanto, por vezes uso a palavra adeus, algumas vezes faço-o por não querer ver mais essa pessoa, e outras em que sou obrigado a usá-la sem ser essa a minha vontade. Esta semana foi uma dessas raras vezes em que a usei a contragosto, e não me apetecia nada usá-la…

Não há muito a dizer, a vida é mesmo assim... Agora é viver um dia de cada vez, uns dias mais triste, outros mais animado, mas muito mais rico com a passagem dessa pessoa pela nossa vida. Muitas vezes damos importância às coisas supérfluas e superficiais, mas o que realmente importa são as experiências de vida e o que aprendemos por confraternizar uns com os outros. Depois de um adeus é isso que fica.

Eu tive a sorte de conviver o suficiente para dizer que fiquei mais rico com a presença dos meus avós na minha vida…Depois do adeus fica muita coisa boa para recordar.

Adeus avó, e obrigado por teres feito parte da minha odisseia sem fim...

7 de dezembro de 2011

Na corda bamba

Vejo no meu horizonte céu claro e muito sol por um lado, e nuvens negras e tempestade do outro, e o meu caminho a passar entre estas duas realidades, sem poder evitá-lo ou seguir outro caminho com menos extremos.


Vejo-me perante estas duas realidades completamente diferentes, como um trapezista a caminhar através de uma corda bamba sem rede, em que não me posso deter ou optar por outro caminho nem falhar nenhum dos passos sob pena de dar passos em falso e deitar tudo a perder, numa altura em que estou totalmente focado em atingir um objectivo, e me vejo perante o desígnio superior de estar presente quando os nossos entes queridos caminham a passos largos rumo ao crepúsculo da vida e enfrentam uma batalha que todos perdemos desde que nascemos.

Não vai ser fácil manter a concentração e o equilíbrio entre duas realidades tão díspares, mas não me resta outra alternativa senão mergulhar de cabeça sem me poder deter a meio nem poder refrear o ritmo dos acontecimentos, e fazer tudo o que puder em todas as frentes, sem abrandar o ímpeto para não deitar tudo a perder nem deixar de apoiar aqueles que me são próximos.

Em última análise, ninguém disse que a vida era justa. As lágrimas devem ser silenciadas e choradas interiormente e as dores suportadas com estoicismo e valentia até ao dia em que caímos definitivamente, porque o mundo é dos bravos, e tudo o que é bom tem um sabor a efémero e breve. Resta-nos viver e não sobreviver, e ir fazendo o melhor que sabemos e podemos.

27 de novembro de 2011

Quando o fado e o sentimento de saudade se encontram fora da nossa pátria (escrito em 27/11/2011)

Hoje é um grande dia para todos os Portugueses, devido ao Fado ser finalmente considerado património imaterial mundial pela UNESCO.
Apesar de como Português me sentir orgulhoso por este facto, na verdade confesso que o fado nunca esteve entre os meus géneros musicais favoritos... Só após muitos anos e uma estadia fora do país começei a apreciar fado embora não o ouça muitas vezes.
Recordo um dia em especial e uma canção, a canção do mar, cantada por Dulce Pontes.



Ouvi-o passado um mês e poucos dias de ter saído de Portugal, rumo a um país e uma realidade completamente diferentes do que conhecera até então, numa festa Portuguesa organizada pelos estudantes Portugueses do Programa Erasmus, numa espécie de garagem com sofás sovados, um balcão improvisado e infiltrações de água nas paredes que servia de bar de Erasmus com o nome de Jazzbina, em Ljubljana, a 4.000 quilómetros de Portugal.
Até então nunca tinha estado tão longe do meu país. As minhas viagens para fora tinham-se resumido a algumas voltas pela Península Ibérica, e nunca por períodos maiores que um mês.
Por entre imagens de Portugal e copos de sangria surgiu esta música. Já a tinha ouvido antes, mais do que uma vez até, mas nesse momento parei. Senti um aperto enorme no coração ao aperceber-me como estava longe de tudo o que até então tinha vivido, do meu país, da minha casa, dos meus familiares e amigos…
Nunca tinha sentido nada assim. Foi nesse dia que finalmente compreendi o verdadeiro significado da palavra saudade, e do enorme sentimento que essa palavra encerra. É um sentimento que não se explica por palavras, apenas quem está longe daquilo que ama o sente e consegue perceber o seu real significado.

Tal como o sentimento de saudade, que dizemos ser uma palavra que apenas encontra uma tradução real na língua Portuguesa, também o fado é parte integrante do nosso património nacional, e a partir de hoje,também do património mundial, o que significa que o nosso planeta passará também a ser um pouco mais Português, ajudando todos os que estão longe da nossa pátria a suportar um pouco melhor o sentimento de saudade.


13 de novembro de 2011

Dificil es quitar un sentimiento que esta bien amarrado al palo del corazon

Ao contrário do que tenho escrito, este não é um texto sobre viagens, nem tão pouco sobre música. Este é um texto que não vai ser tratado, re-escrito e arranjado para que fique bem feito, nem vai levar qualquer imagem. Hoje vou deixar o meu coração falar.
Pela primeira vez em três anos, sinto que é tempo de deixar cair a muralha que ergui sobre mim próprio para me proteger e dizer o que sinto..


Há precisamente três anos atrás, vi partir a pessoa que foi uma das grandes referências da minha vida, o meu avô..
Ao escrever este texto, ainda tenho o mesmo sentimento de vazio que senti neste dia, como se se tivesse aberto um enorme buraco negro que me sugou as emoções e os sentimentos, o mesmo peso no coração e o mesmo sentimento de raiva e e impotência por ter-te visto numa cama de hospital a sofrer e a chamar pelo meu nome e eu nada poder fazer para impedir isso. A única coisa que me dá alguma tranquilidade foi teres falecido na presença dos teus sucessores, e não sozinho e abandonado.

Recordo bem o dia que recebi o telefonema numa tarde de sábado a avisarem-me que se sentia mal e ia para o hospital. Era o dia 8 de Novembro, lembro-me que estava sol nessa tarde, e da enorme aflição que senti porque previ o pior.
Ao chegar ao hospital, senti-me um pouco mais tranquilo, sempre foi um combatente, que aos 80 anos ainda andava nos telhados e fazia muros. Vi-o combalido e fraco, mas estava tranquilo, e isso tranquilizou-me.

No entanto, com o decorrer da semana fui vendo o lento definhar até chegar à fatídica Sexta feira de 14 de Novembro.. Nesse dia ao sair do trabalho tive um estranho pressentimento, e contra tudo decidi ir ao hospital. Sentia que algo não estava bem, e corri, corri como há muito tempo não corria, apenas parando junto à cama, dei a mão e assim foi partindo, aos poucos... Ainda hoje penso que esperou por eu chegar para partir.
Naquele momento apeteceu-me chorar de raiva e isolar-me de todos até acalmar a dor, mas não o fiz porque sabia que não podia, contive e engoli tudo o que senti.

Por fora parecia feito de pedra, sabia que tinha de ser o fiel da balança e o elemento conciliador na família, tinha de ser forte por todos, para que nenhum quebrasse, mas por dentro implodi. Nos dias seguintes senti-me vazio e perdido, sem vontade de lutar. Limitei-me a ver os dias passar, e até que voltasse a reagir levou algum tempo.

Ainda hoje, passados estes anos, tenho o mesmo sentimento de vazio e de perda. Provavelmente é um sentimento que irá acompanhar-me até ao fim, porque por mais anos que passem, nunca vou esquecer o forte de madeira que me fizeste em miúdo para eu brincar aos índios e cowboys, e que ainda hoje guardo religiosamente, nem o degrau a mais nas escadas que fizeste por eu ter caído e esmurrado os joelhos, nem os momentos que passei a brincar e a martelar os dedos na tua oficina, nem as histórias que me contavas que faziam com que me risse como um perdido, nem as vindimas na terra, em que me punhas no lagar a pisar as uvas, nem os passeios que dei em miúdo pela tua mão pela baixa de Lisboa, pelas Caldas, pela Foz do Arelho, nem os almoços em família no Cortiço, nem de te ver a trabalhar na velha estância de madeira perto da Almirante Reis a trabalhar a madeira com o esmero e a paciência de um mestre.

Irei sempre arrepender-me de nunca termos feito a viagem que combinamos quando era pequeno, e que tantas vezes ficamos de combinar e foi ficando sempre para depois, para quando houvesse tempo...Até que não houve mais tempo...

Não sei se existe céu ou inferno, nem se onde quer que esteja o meu avô vai ler o que escrevo. Quero acreditar que está num lugar melhor. Quero acreditar que onde quer que esteja ele continua a guiar os meus passos, e a fazer degraus para eu não cair e esmurrar os joelhos...