O dia 15 de Agosto de 2003 foi o
meu dia do antes e depois de. O meu dia de redenção, aquele em que regressei ao eu que tinha
renunciado sete anos antes, o dia em que finalmente renunciei a um caminho e objectivo que
apenas serviu para desperdiçar anos de vida, e o dia em que finalmente perdoei-me a mim próprio por um passado e uma memória sombria que provocou dor e sofrimento.
Tenho bem vivo na memória o dia em que uma memória reprimida surgiu do nada para me atingir em cheio. Lembro-me bem do sentimento de revolta e ódio que senti nesse momento ao recordar tudo o que se passou. Não passa um dia em que não me arrependa de traçar esse rumo que me fez erguer uma muralha em volta de mim para me proteger e me fez mergulhar numa espiral de ódio sem fim. Foram os piores anos da minha vida, dos quais apenas recordo os poucos bons amigos que me ajudaram a minorar o sofrimento que sentia.
Já passaram 9 anos desde o dia em que decidi perdoar-me a mim próprio, em que um acaso do destino me levou até este lugar ermo, onde um santuário solitário tem por companhia os carvalhos e pinheiros por onde o vento passa ligeiro e os cavalos selvagens e o gado coabitam de forma pacífica. Foi neste local solitário que tomei a decisão sensata de seguir outro rumo, e com isso finalmente reencontrei a paz interior que há muito procurava.
Nunca acreditei em coincidências nem no destino, mas hoje, quando olho para trás, sinto que talvez tivesse de passar por tudo isso para apreciar e dar valor a tudo o que tenho vivido e a todas as coisas boas e más que têm acontecido. Tudo isso me ajudou a ser mais humano, mais apaixonado pela vida, a lutar com determinação e garra e a dar mais valor às coisas simples da vida e aos valores morais pelos quais me oriento.
Não há dia que não agradeça por
regressar ao meu eu e tudo o que aconteceu a partir deste dia. O simples facto de ver o mundo de outra forma e de sentir novamente vontade de lutar por mim fizeram com que a vida ganhasse um novo sentido. Sei que por mais negro e sombrio que o futuro pareça ou por mais intransponível que pareça um obstáculo irei sempre lutar com a determinação de quem tem paixão pela vida, de quem está em paz consigo próprio e de quem reencontrou o sentido da palavra viver.