
Vejo-me perante estas duas realidades completamente diferentes, como um trapezista a caminhar através de uma corda bamba sem rede, em que não me posso deter ou optar por outro caminho nem falhar nenhum dos passos sob pena de dar passos em falso e deitar tudo a perder, numa altura em que estou totalmente focado em atingir um objectivo, e me vejo perante o desígnio superior de estar presente quando os nossos entes queridos caminham a passos largos rumo ao crepúsculo da vida e enfrentam uma batalha que todos perdemos desde que nascemos.
Não vai ser fácil manter a concentração e o equilíbrio entre duas realidades tão díspares, mas não me resta outra alternativa senão mergulhar de cabeça sem me poder deter a meio nem poder refrear o ritmo dos acontecimentos, e fazer tudo o que puder em todas as frentes, sem abrandar o ímpeto para não deitar tudo a perder nem deixar de apoiar aqueles que me são próximos.
Em última análise, ninguém disse que a vida era justa. As lágrimas devem ser silenciadas e choradas interiormente e as dores suportadas com estoicismo e valentia até ao dia em que caímos definitivamente, porque o mundo é dos bravos, e tudo o que é bom tem um sabor a efémero e breve. Resta-nos viver e não sobreviver, e ir fazendo o melhor que sabemos e podemos.