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27 de novembro de 2011

Quando o fado e o sentimento de saudade se encontram fora da nossa pátria (escrito em 27/11/2011)

Hoje é um grande dia para todos os Portugueses, devido ao Fado ser finalmente considerado património imaterial mundial pela UNESCO.
Apesar de como Português me sentir orgulhoso por este facto, na verdade confesso que o fado nunca esteve entre os meus géneros musicais favoritos... Só após muitos anos e uma estadia fora do país começei a apreciar fado embora não o ouça muitas vezes.
Recordo um dia em especial e uma canção, a canção do mar, cantada por Dulce Pontes.



Ouvi-o passado um mês e poucos dias de ter saído de Portugal, rumo a um país e uma realidade completamente diferentes do que conhecera até então, numa festa Portuguesa organizada pelos estudantes Portugueses do Programa Erasmus, numa espécie de garagem com sofás sovados, um balcão improvisado e infiltrações de água nas paredes que servia de bar de Erasmus com o nome de Jazzbina, em Ljubljana, a 4.000 quilómetros de Portugal.
Até então nunca tinha estado tão longe do meu país. As minhas viagens para fora tinham-se resumido a algumas voltas pela Península Ibérica, e nunca por períodos maiores que um mês.
Por entre imagens de Portugal e copos de sangria surgiu esta música. Já a tinha ouvido antes, mais do que uma vez até, mas nesse momento parei. Senti um aperto enorme no coração ao aperceber-me como estava longe de tudo o que até então tinha vivido, do meu país, da minha casa, dos meus familiares e amigos…
Nunca tinha sentido nada assim. Foi nesse dia que finalmente compreendi o verdadeiro significado da palavra saudade, e do enorme sentimento que essa palavra encerra. É um sentimento que não se explica por palavras, apenas quem está longe daquilo que ama o sente e consegue perceber o seu real significado.

Tal como o sentimento de saudade, que dizemos ser uma palavra que apenas encontra uma tradução real na língua Portuguesa, também o fado é parte integrante do nosso património nacional, e a partir de hoje,também do património mundial, o que significa que o nosso planeta passará também a ser um pouco mais Português, ajudando todos os que estão longe da nossa pátria a suportar um pouco melhor o sentimento de saudade.


13 de novembro de 2011

Dificil es quitar un sentimiento que esta bien amarrado al palo del corazon

Ao contrário do que tenho escrito, este não é um texto sobre viagens, nem tão pouco sobre música. Este é um texto que não vai ser tratado, re-escrito e arranjado para que fique bem feito, nem vai levar qualquer imagem. Hoje vou deixar o meu coração falar.
Pela primeira vez em três anos, sinto que é tempo de deixar cair a muralha que ergui sobre mim próprio para me proteger e dizer o que sinto..


Há precisamente três anos atrás, vi partir a pessoa que foi uma das grandes referências da minha vida, o meu avô..
Ao escrever este texto, ainda tenho o mesmo sentimento de vazio que senti neste dia, como se se tivesse aberto um enorme buraco negro que me sugou as emoções e os sentimentos, o mesmo peso no coração e o mesmo sentimento de raiva e e impotência por ter-te visto numa cama de hospital a sofrer e a chamar pelo meu nome e eu nada poder fazer para impedir isso. A única coisa que me dá alguma tranquilidade foi teres falecido na presença dos teus sucessores, e não sozinho e abandonado.

Recordo bem o dia que recebi o telefonema numa tarde de sábado a avisarem-me que se sentia mal e ia para o hospital. Era o dia 8 de Novembro, lembro-me que estava sol nessa tarde, e da enorme aflição que senti porque previ o pior.
Ao chegar ao hospital, senti-me um pouco mais tranquilo, sempre foi um combatente, que aos 80 anos ainda andava nos telhados e fazia muros. Vi-o combalido e fraco, mas estava tranquilo, e isso tranquilizou-me.

No entanto, com o decorrer da semana fui vendo o lento definhar até chegar à fatídica Sexta feira de 14 de Novembro.. Nesse dia ao sair do trabalho tive um estranho pressentimento, e contra tudo decidi ir ao hospital. Sentia que algo não estava bem, e corri, corri como há muito tempo não corria, apenas parando junto à cama, dei a mão e assim foi partindo, aos poucos... Ainda hoje penso que esperou por eu chegar para partir.
Naquele momento apeteceu-me chorar de raiva e isolar-me de todos até acalmar a dor, mas não o fiz porque sabia que não podia, contive e engoli tudo o que senti.

Por fora parecia feito de pedra, sabia que tinha de ser o fiel da balança e o elemento conciliador na família, tinha de ser forte por todos, para que nenhum quebrasse, mas por dentro implodi. Nos dias seguintes senti-me vazio e perdido, sem vontade de lutar. Limitei-me a ver os dias passar, e até que voltasse a reagir levou algum tempo.

Ainda hoje, passados estes anos, tenho o mesmo sentimento de vazio e de perda. Provavelmente é um sentimento que irá acompanhar-me até ao fim, porque por mais anos que passem, nunca vou esquecer o forte de madeira que me fizeste em miúdo para eu brincar aos índios e cowboys, e que ainda hoje guardo religiosamente, nem o degrau a mais nas escadas que fizeste por eu ter caído e esmurrado os joelhos, nem os momentos que passei a brincar e a martelar os dedos na tua oficina, nem as histórias que me contavas que faziam com que me risse como um perdido, nem as vindimas na terra, em que me punhas no lagar a pisar as uvas, nem os passeios que dei em miúdo pela tua mão pela baixa de Lisboa, pelas Caldas, pela Foz do Arelho, nem os almoços em família no Cortiço, nem de te ver a trabalhar na velha estância de madeira perto da Almirante Reis a trabalhar a madeira com o esmero e a paciência de um mestre.

Irei sempre arrepender-me de nunca termos feito a viagem que combinamos quando era pequeno, e que tantas vezes ficamos de combinar e foi ficando sempre para depois, para quando houvesse tempo...Até que não houve mais tempo...

Não sei se existe céu ou inferno, nem se onde quer que esteja o meu avô vai ler o que escrevo. Quero acreditar que está num lugar melhor. Quero acreditar que onde quer que esteja ele continua a guiar os meus passos, e a fazer degraus para eu não cair e esmurrar os joelhos...

2 de novembro de 2011

Oblivion

Apenas fecha os olhos, esquece as mágoas do passado, as preocupações do presente e os receios e sonhos de um futuro incerto, e deixa a música fluir livremente pelo teu corpo e alma...

Astor Piazzola através do tango tem o dom de nos fazer esquecer tudo por breves momentos. As mágoas, desilusões, tristezas, alegrias, momentos felizes, tudo fica para trás, apenas o agora interessa, um agora carregado de sentimento e silêncio, fazendo-nos mergulhar no rio do esquecimento (Oblivion)...