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24 de fevereiro de 2011

Pai, irmão, amigo para a vida

Hoje é dia de aniversário do meu pai . Já lá vão 59 anos…Apesar de não ser dia do pai, não podia deixar passar este aniversário em branco e fazer uma pequena homenagem.
Não é fácil para mim falar do meu pai, penso que não o é para nenhum filho. Há sempre demasiado para dizer e nem sempre se consegue dizer tudo. Posso dizer que sou um filho orgulhoso de um grande pai, e que o meu pai é o meu herói.

Desde pequeno sempre o adorei, a ponto de dizer que o meu pai é um dos grandes amores da minha vida. De pequeno recordo as brincadeiras, a ida para o infantário pela sua mão, as paragens para comer o pastel de  nata ou a passagem pela loja do macacão, que faziam parte da rotina diária a caminho de mais um dia.

Também recordo o período da tua ausência semanal, em que esperava todas as sextas-feiras à noite ansiosamente pelo nosso velho mini que o trazia de volta para nós, dos acampamentos na Foz do Arelho e as pescarias ao pôr-do-sol que tanto gostava de ir, ou me pegar ao colo para conduzir o mini, mesmo que fosse a fingir, e da primeira vez que me levou a ver a bola, e que teve um efeito contrário ao que ele pretendia porque acabei por começar a gostar do Belenenses.
Nessa altura todos os momentos eram poucos para estar com ele.

Numa fase posterior recordo a infinita paciência para me explicar a matemática, mesmo que estivesse distraído com outras coisas sem jeito, e do apoio incansável que me deu quando já poucos acreditavam nas minhas capacidades (por vezes até eu próprio). Ele nunca desistiu de mim!
E graças ao apoio dele venci e superei todas as duras provas a que fui submetido. Nesses anos aprendi com ele a mais importante de todas as lições de vida, a de que por mais difícil que esteja a situação, nunca se deve baixar os braços até alcançar o que queremos.

Superar esses momentos fizeram-me chegar onde cheguei hoje. Também recordo de como decidiu apoiar-me quando me aventurei pela primeira vez fora do país, para um país completamente diferente durante meio ano, que se veio a converter em um ano, e mesmo que estivesse contra a minha decisão de ir decidiu não me cortar as asas, nem de quando me amparou a queda e me apoiou mais uma vez… Provavelmente ia conseguir superar a prova de fogo sozinho porque estava determinado a isso, mas o seu apoio foi a âncora de estabilidade que necessitava para navegar no meio de um oceano de tanta incerteza.

Pai, apesar de por vezes chocarmos, e de por vezes me fechar e não dizer o que sinto e de nem sempre ter tempo para te ouvir, quero que saibas que não há um dia em que não pense em ti, nem que não agradeça tudo o que tens feito por mim. Tudo o que fui, sou e serei devo-o a ti.
Parabéns meu pai, irmão e amigo para a vida.

23 de fevereiro de 2011

Homenagem singela a um grande músico

Não podia deixar passar o dia de hoje sem prestar a minha homenagem a um dos melhores músicos que Portugal já conheceu, o grande Zeca Afonso. Lembro-me do dia em que partiu, era um dia chuvoso. Apesar de na altura apenas me interessar por Ministars e Onda Choc, lembro-me do choque dos meus pais em saberem que o Zeca tinha falecido. Pasados anos, durante o período da adolescência, e depois de pelo meio ouvir Nirvana, Guns, Doors, Pearl Jam e outros que marcaram os noventa, comecei a ouvir Zeca Afonso, e apesar de não ser bem a minha onda da altura gostei.


Entre muitas músicas, seleccionei esta, que é uma das minhas favoritas…

17 de fevereiro de 2011

Que nunca caiam as pontes entre nós II

“Se Deus abandonou esta infeliz cidade à beira do Drina, com certeza vai abandonar todo o mundo e tudo o que existe debaixo dos céus. E esta devastação não há-de durar para sempre (…) Tudo pode acontecer, menos uma coisa: Nunca vão desaparecer por inteiro e para sempre da face da terra aqueles homens grandes e sábios, todas aquelas almas nobres que constroem obras duradouras para a glória de Deus, para tornar o mundo mais belo e a vida humana mais fácil. Porque se eles desaparecessem, isso significaria que o amor de Deus se tinha extinguido deste mundo. Isso nunca podia ser”
Ivo Andric, A ponte sobre o Drina

Apesar da cidade estar reduzida a escombros, a destruição daquela ponte foi um golpe mortal para todos os que nela habitavam e amavam o que era belo, os mesmos para quem a ponte era muito mais que um mero local de passagem, e onde até à pouco tempo tantas horas tinham passado. Aquilo que os unia como uma comunidade, jazia agora nas águas turvas em que o belo rio que outrora era esmeralda se converteu...Tinha sido um ataque sem outra intenção que não destruir o que é belo e matar a memória colectiva de uma cidade outrora unida.

Nesse mesmo dia, a mais de 4.000 kms de distância, naquele que era suposto ser mais um dia de escola com a mesma rotina de sempre, vi no noticiário as imagens da ponte a ser destruída. Nunca tinha visto nada assim…As imagens  deixaram-me triste, apesar de nunca ter ouvido falar na ponte, e muito menos em Mostar, e de todo aquele pesadelo me parecer demasiado longínquo.
Na altura nunca imaginei que um dia ia estar naquela mesma cidade.

Passados 11 anos, durante uma viagem pelos Balcãs, paramos em Mostar. À medida que percorria as ruas, vi ainda muita da destruição que fez parte do quotidiano desta cidade durante 4 anos. É um choque atravessar uma cidade destruída quando estamos habituados à nossa zona de conforto, parecendo que entramos na twilight zone.
Durante uma visita a uma das mesquitas da cidade, subimos ao minarete para apreciar a vista sobre a cidade, e eis que entre os edifícios, surge a bela ponte reconstruída. Assim que a vi foi amor à primeira vista, e não descansei enquanto não a atravessei e parei num dos bares a beber chá, enquanto contemplava a bela ponte sobre o rio que corria suave e imperturbável. Havia algo naquela ponte que me fascinava e me fazia olhar apenas para ela. Queria guardar aquele momento na minha memória, e saboreá-lo por muitos e bons anos. Naquele dia apercebi-me que a beleza e a bondade triunfaram sobre o ódio e o desejo de separar o que a ponte tinha unido.

Ao deixar Mostar, e apesar das cicatrizes que teimavam em estar abertas, espalhadas por toda a cidade, sentia-me feliz, porque o belo rio Esmeralda corre mais uma vez sobre o arco-íris que sobe em direcção ao céu…

Que nunca caiam as pontes entre nós I


Muitos de nós atravessam pontes durante uma semana de
trabalho, às vezes até mais de que uma vez durante um dia normal. No dicionário a palavra ponte significa “construção que permite interligar ao mesmo nível pontos não acessíveis separados por rios, vales, ou outros obstáculos naturais ou artificiais”.
Todas as pontes têm essa função, no entanto algumas fazem mais do que simplesmente ligar pontos que não estão acessíveis, têm histórias mágicas que merecem ser contadas. Hoje vou contar a história de uma dessas pontes…

Todas as histórias começam por era uma vez, e esta não será excepção…Era uma vez um sultão Turco que decidiu mandar construir uma ponte para substituir uma velha ponte de madeira pouco segura.
O arquitecto encarregue de desenhar a nova ponte decidiu não fazer apenas mais uma ponte, igual a tantas outras, decidiu fazer uma obra que ficasse na história, apesar de estar ameaçado de morte caso a construção não fosse sólida.
Após 9 longos anos de construção, ficou finalmente concluída em 1566 ou 1567. Uma das lendas conta que quando a colossal ponte foi concluída o arquitecto preparou o seu próprio funeral para o caso da estrutura entrar em colapso.
 Quando finalmente foi retirado o último andaime, tinha o maior arco feito pelo homem, sendo considerada uma das maiores obras de arquitectura do seu tempo, havendo quem a descrevesse como “um arco-íris arco subindo para o céu, estendendo-se de um penhasco para o outro”.

Graças à ponte, uma aldeia desenvolveu-se durante 427 anos, espraiando-se pelas duas margens do rio esmeralda outrora intransponível, tornando-se mais do que um mero ponto de passagem e convertendo-se na cidade de Mostar (Guardiões da ponte). Com o tempo outros monumentos imponentes surgiram na cidade, e outras pontes ligaram as duas margens do rio. Porém, todos os olhos se concentravam na construção que deu origem à cidade, como se a velha ponte fosse de facto o seu coração, unindo todos os que a habitavam, acolhendo nos seus parapeitos sobre o rio crianças que brincavam atirando pedras ao rio, amigos que se encontravam para colocar a conversa em dia, adolescentes atirando-se ao rio em busca de fama e prestígio e casais de namorados faziam juras de amor eterno, fossem eles Croatas, Bósnios Muçulmanos ou Sérvios, enquanto o belo rio esmeralda corria por baixo da ponte, indiferente a todas.
Durante séculos, a cidade viveu em comunhão com a ponte, formando uma comunidade pacífica, unida e próspera.
 Até que…Num triste dia para a humanidade, a bela ponte sucumbiu face ao ódio humano pelo que é belo, na manhã do dia 9 de Novembro de 1993.

15 de fevereiro de 2011

“Produzimos demasiadas coisas para usar e deitar fora”

Sempre associei este dia a um acontecimento mau da minha infância, daí que nunca tenha ligado muito para o dia 14 de Fevereiro, e também por pensar que o significado deste dia deve ser celebrado todos os dias e não apenas uma vez por ano.
No entanto hoje abri uma excepção, e resolvi escrever acerca de uma coisa que é impossível de descrever para alguns, e que apenas se consegue explicar sentindo, o amor, e o que essa palavra tão especial significa para mim.

Hoje ao passar de comboio a caminho do trabalho apercebi-me de uma publicidade com uma frase que me chamou a atenção. A frase dizia:

“Produzimos demasiadas coisas para usar e deitar fora”

Esta frase diz bastante acerca do nosso quotidiano. A vida é dura, e põe-nos constantemente à prova, e constantemente faz com que nos tornemos artificiais, materialistas e desprovidos de sentimentos. No nosso dia-a-dia habituamo-nos a usar os objectos, animais e pessoas, e quando nos fartamos ou simplesmente já não nos são úteis, deitamo-los fora da nossa vida, como se de lixo se tratasse.

A maioria de nós não está para se chatear, nem tem paciência para socializar ou para aturar outra pessoa quando o dia-a-dia nos exige mais, por vezes até mais do que aquilo que podemos dar.
Não somos bons ouvintes, o que é uma pena pois assim muito se perde. Procuramos soluções rápidas para tudo, sem a paciência necessária para esperarmos o tempo necessário para tal. Tudo isto por um lado é reflexo da sociedade em que vivemos, na qual procuramos uma maior rapidez de soluções e felicidade.

No entanto, no meio dessa rapidez, stress, ou simplesmente falta de vontade, esquecemo-nos de que o que realmente importa na vida é ter momentos felizes, e para os ter é preciso fazer sacrifícios e literalmente mover montanhas, e não apenas dar atenção à nossa cara metade no dia dos namorados.
Já muito foi escrito sobre o amor, e existem livros que retratam n histórias de amor. Todos nós conhecemos exemplos e vivemos amores impossíveis, amores não correspondidos, amores platónicos e paixões que desafiaram e abalaram os pilares de famílias e sociedades. Na minha família tenho vários exemplos desses, porém não é deles que quero falar.

De todas as histórias e livros que li, houve uma que me tocou fundo…O livro foi escrito por Owen Matthews, e fala sobre a história de três gerações da sua família.

O pai de Owen, Mervyn, foi um dos primeiros britânicos a quem foi permitido estudar na URSS, na década de 50, facto que alterou toda a sua vida, quando se apaixona por Lyudmila, uma mulher inteligente e frágil proveniente de uma família vítima das purgas de Estaline, e posteriormente, quando se recusou a colaborar com o KGB, motivo pelo qual foi expulso permanentemente da URSS.
Os pedidos repetidos de um visto para Lyudmila sair da URSS foram sempre recusados, motivo pelo qual a história poderia ter um fim prematuro. No entanto, e apesar da distância que os separava, de não haver internet, msn, facebook ou telefone, não se deram por vencidos.

Todos os dias escreviam um ao outro, nunca perdendo a esperança de ficarem juntos, por mais desesperada que a sua situação parecesse. Todo o seu amor foi escrito em mais de um milhar de cartas, recheadas de frustração, amor e relatos do quotidiano.
Demonstrando uma enorme reserva de determinação e espírito de sacrifício, Mervyn abdicou de uma brilhante carreira em Oxford e dedicou seis anos a fazer uma campanha persistente e implacável para que fosse permitido a Lyudmila voltar para os seus braços, perseguindo e insistindo com toda e qualquer figura de peso no Governo Britânico que pudesse ajudá-lo, viajando pela Europa para tentar obter apoios, e conseguindo escapar duas vezes ao controlo fronteiriço da URSS para voltar a ver Lyudmila.

Apesar das frustrações, desilusões e dificuldades, o facto de nunca ter esmorecido o amor que sentiam um pelo outro nem a sua determinação durante esses seis longos anos, sem garantias de voltar a ver o seu amor acabou por ser recompensada, durante um processo de troca de espiões entre a URSS e a Inglaterra, conseguindo assim Mathews ver recompensada a sua longa e árdua batalha.
O casamento entre ambos foi menos feliz, devido aos problemas de adaptação que Lyudmila teve. No entanto foi salvo pela lealdade obstinada de ambos.

Esta história verídica de um amor que moveu montanhas serve para exemplificar o que de facto penso sobre o amor, e o que hoje em dia falta num amor vivido a dois…

Esquecemo-nos que para receber também é preciso dar, que amar é 50-50, que a desconfiança, o ressentimento, o orgulho e o rancor em excesso matam o sentimento de amar, que a maior de todas as provas é o perdão, que amor não é apenas momentos mágicos a dois, com viagens, jantares, amanheceres na praia, pequenos-almoços na cama e sentir borboletas no estômago. A palavra amor é maior que tudo isso. Inclui momentos menos bons que incluem amuos, zangas, desânimo e algumas desilusões, momentos esses em que é preciso tolerância, capacidade de encaixe, e muita, mas mesmo muita paciência.
Tudo isso faz parte da palavra amor, e tudo isso merece a pena sacrifícios, por mais absurdos que pareçam. O amor no fundo não é mais do que um sim continuado, um sim pelo qual estamos dispostos a lutar todos os dias, sejam dias de sol ou de chuva, lutando por fazer dessa palavra mágica algo pelo qual valha a pena enfrentar o dia-a-dia, e nos faça enfrentar dias vazios de sentido com o mesmo sorriso com que enfrentamos dias mais alegres.
Valerá a pena abdicar de algum do nosso tempo passado numa correria sem sentido e lutar por amor??
Eu digo que sim!