Sempre associei este dia a um acontecimento mau da minha infância, daí que nunca tenha ligado muito para o dia 14 de Fevereiro, e também por pensar que o significado deste dia deve ser celebrado todos os dias e não apenas uma vez por ano.
No entanto hoje abri uma excepção, e resolvi escrever acerca de uma coisa que é impossível de descrever para alguns, e que apenas se consegue explicar sentindo, o amor, e o que essa palavra tão especial significa para mim.
Hoje ao passar de comboio a caminho do trabalho apercebi-me de uma publicidade com uma frase que me chamou a atenção. A frase dizia:
“Produzimos demasiadas coisas para usar e deitar fora”
Esta frase diz bastante acerca do nosso quotidiano. A vida é dura, e põe-nos constantemente à prova, e constantemente faz com que nos tornemos artificiais, materialistas e desprovidos de sentimentos. No nosso dia-a-dia habituamo-nos a usar os objectos, animais e pessoas, e quando nos fartamos ou simplesmente já não nos são úteis, deitamo-los fora da nossa vida, como se de lixo se tratasse.
A maioria de nós não está para se chatear, nem tem paciência para socializar ou para aturar outra pessoa quando o dia-a-dia nos exige mais, por vezes até mais do que aquilo que podemos dar.
Não somos bons ouvintes, o que é uma pena pois assim muito se perde. Procuramos soluções rápidas para tudo, sem a paciência necessária para esperarmos o tempo necessário para tal. Tudo isto por um lado é reflexo da sociedade em que vivemos, na qual procuramos uma maior rapidez de soluções e felicidade.
No entanto, no meio dessa rapidez, stress, ou simplesmente falta de vontade, esquecemo-nos de que o que realmente importa na vida é ter momentos felizes, e para os ter é preciso fazer sacrifícios e literalmente mover montanhas, e não apenas dar atenção à nossa cara metade no dia dos namorados.
Já muito foi escrito sobre o amor, e existem livros que retratam n histórias de amor. Todos nós conhecemos exemplos e vivemos amores impossíveis, amores não correspondidos, amores platónicos e paixões que desafiaram e abalaram os pilares de famílias e sociedades. Na minha família tenho vários exemplos desses, porém não é deles que quero falar.
De todas as histórias e livros que li, houve uma que me tocou fundo…O livro foi escrito por Owen Matthews, e fala sobre a história de três gerações da sua família.
O pai de Owen, Mervyn, foi um dos primeiros britânicos a quem foi permitido estudar na URSS, na década de 50, facto que alterou toda a sua vida, quando se apaixona por Lyudmila, uma mulher inteligente e frágil proveniente de uma família vítima das purgas de Estaline, e posteriormente, quando se recusou a colaborar com o KGB, motivo pelo qual foi expulso permanentemente da URSS.
Os pedidos repetidos de um visto para Lyudmila sair da URSS foram sempre recusados, motivo pelo qual a história poderia ter um fim prematuro. No entanto, e apesar da distância que os separava, de não haver internet, msn, facebook ou telefone, não se deram por vencidos.
Todos os dias escreviam um ao outro, nunca perdendo a esperança de ficarem juntos, por mais desesperada que a sua situação parecesse. Todo o seu amor foi escrito em mais de um milhar de cartas, recheadas de frustração, amor e relatos do quotidiano.
Demonstrando uma enorme reserva de determinação e espírito de sacrifício, Mervyn abdicou de uma brilhante carreira em Oxford e dedicou seis anos a fazer uma campanha persistente e implacável para que fosse permitido a Lyudmila voltar para os seus braços, perseguindo e insistindo com toda e qualquer figura de peso no Governo Britânico que pudesse ajudá-lo, viajando pela Europa para tentar obter apoios, e conseguindo escapar duas vezes ao controlo fronteiriço da URSS para voltar a ver Lyudmila.
Apesar das frustrações, desilusões e dificuldades, o facto de nunca ter esmorecido o amor que sentiam um pelo outro nem a sua determinação durante esses seis longos anos, sem garantias de voltar a ver o seu amor acabou por ser recompensada, durante um processo de troca de espiões entre a URSS e a Inglaterra, conseguindo assim Mathews ver recompensada a sua longa e árdua batalha.
O casamento entre ambos foi menos feliz, devido aos problemas de adaptação que Lyudmila teve. No entanto foi salvo pela lealdade obstinada de ambos.
Esta história verídica de um amor que moveu montanhas serve para exemplificar o que de facto penso sobre o amor, e o que hoje em dia falta num amor vivido a dois…
Esquecemo-nos que para receber também é preciso dar, que amar é 50-50, que a desconfiança, o ressentimento, o orgulho e o rancor em excesso matam o sentimento de amar, que a maior de todas as provas é o perdão, que amor não é apenas momentos mágicos a dois, com viagens, jantares, amanheceres na praia, pequenos-almoços na cama e sentir borboletas no estômago. A palavra amor é maior que tudo isso. Inclui momentos menos bons que incluem amuos, zangas, desânimo e algumas desilusões, momentos esses em que é preciso tolerância, capacidade de encaixe, e muita, mas mesmo muita paciência.
Tudo isso faz parte da palavra amor, e tudo isso merece a pena sacrifícios, por mais absurdos que pareçam. O amor no fundo não é mais do que um sim continuado, um sim pelo qual estamos dispostos a lutar todos os dias, sejam dias de sol ou de chuva, lutando por fazer dessa palavra mágica algo pelo qual valha a pena enfrentar o dia-a-dia, e nos faça enfrentar dias vazios de sentido com o mesmo sorriso com que enfrentamos dias mais alegres.
Valerá a pena abdicar de algum do nosso tempo passado numa correria sem sentido e lutar por amor??